22 de maio de 2011 0h 00
Paulo Saldaña - O Estado de S.Paulo
Dutos de ar dos shoppings contaminando a população desavisada
A porta do shopping abre e o ar condicionado logo se faz notar. O que em dias de calor representa um alívio pode, na verdade, ser uma armadilha para a saúde. Dos 50 grandes shoppings da cidade de São Paulo, só 21 já passaram por fiscalização da qualidade do ar. E pior: apenas dois tiveram o processo finalizado com sucesso. Os 19 restantes continuam com alguma irregularidade ou em fase de adequação.
As fiscalizações começaram depois de um termo de cooperação firmado em 2004 entre o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Coordenação de Vigilância em Saúde (Covisa), mais conhecida como vigilância sanitária. Os órgãos não divulgam detalhes sobre os locais avaliados.
O processo começou no MPT, que recebeu denúncias de lojistas. Com a fiscalização, percebeu-se que as condições, em geral, estão longe do ideal. "Constatamos uma situação extremamente precária dos sistemas de climatização. Em um dos casos, toneladas de resíduos foram encontrados nos dutos de ventilação", afirma a procuradora do Trabalho Daniele Leite.
Por lei, ambientes fechados com grande movimento de pessoas têm de ter um sistema de ar condicionado que funcione em perfeito estado. Considerados um refúgio do paulistano, ainda mais com a chegada do frio, os shoppings têm tido prioridade na fiscalização. Centros comerciais menores também vão ser avaliados, segundo a Covisa, o que eleva o número de locais para mais de cem.
Os índices de qualidade dependem de uma premissa básica: o ar interno tem de ser reciclado, evitando a concentração de vírus, sujeira suspensa e principalmente de fungos.
"A estrutura do sistema de ar condicionado pode ocasionar a proliferação dessas substâncias", explica a médica Vera Lúcia Allegro, gerente de Vigilância e Saúde Ambiental e do Trabalho da Covisa.
Os riscos à saúde vão de doenças pulmonares a alérgicas. A vendedora Daniela Gomes, de 27 anos, trabalha há seis em shoppings e sente no pulmão e no nariz os reflexos do ar represado. Daniela conta que tem rinite alérgica e precisa acostumar-se com um mal-estar contínuo. "Sinto que demora muito tempo para limpar o ar, fica pesado", diz ela, que hoje trabalha em um centro comercial da zona leste. "Se estou com gripe, a outra vendedora pega." Casos de conjuntivite viral também se propagam pelo ar sujo, alerta Vera, da Covisa.
Legislação. Uma eficiente ventilação depende do funcionamento de toda a engrenagem do sistema de ar. E cada detalhe passa pela fiscalização - amparada em um calhamaço de 31 leis e portarias municipais, estaduais e federais sobre o assunto.
A temperatura, por exemplo, é um forte sinal de que algo pode não estar indo bem. Um ambiente muito quente ou muito frio é sinal de mau funcionamento do sistema. "A temperatura tem de estar entre 20°C a 26°C. E o ideal é que o cliente e o lojista saibam das condições dentro do local", explica Paulo José Marques Hoenen, presidente da Sociedade Brasileira de Meio Ambiente e Controle de Qualidade do Ar de Interiores (Brasindoor).
Hoenen explica que o principal indício de problemas é o nível de dióxido de carbono (CO2) produzido pela respiração das pessoas. O gás só é perceptível por aparelhos especiais. Níveis acima de 500 partes por milhão (PPM) são preocupantes, mas a legislação permite até 1.000 PPM.
A Brasindoor faz uma minuciosa avaliação dessas variantes, que resulta em um selo de qualidade interna do ar - mesmo sem serem válidos na fiscalização, os procedimentos são até mais criteriosos que os da Covisa. Só três shoppings têm o selo: Iguatemi, Market Place e Metrô Tatuapé.
Estação. Para garantir o controle da qualidade do ar, o sistema precisa de uma estrutura que mais lembra uma estação meteorológica.
Além de termômetro, fazem parte do leque um anemômetro (que mede a velocidade do ar), o amostrador de CO2 e outro de bactérias e fungos e um higrômetro (para a umidade relativa).
Vilã dos dias de inverno e secos, a baixa umidade relativa do ar também é um problema em ambientes fechados. E há reflexos para a saúde. "O ar muito seco pode provocar sequidão nos olhos e até sangramento no nariz", diz a gerente da Covisa.
A aposentada Maria Lucia Lanfredi, de 70 anos, sente isso. "Em algumas lojas o ar fica ainda mais seco e frio. Meu nariz arde e os olhos ficam como se eu tivesse uma conjuntivite."
O presidente da Brasindoor explica que o projeto de ar deve ser desenhado para picos de movimento, mas precisa considerar o mesmo ambiente com poucas pessoas e evitar a secura do ar. "Em alguns shoppings, é preciso umidificação extra para manter dentro da faixa tolerável."
Rich Representações - Representante Bahia
Ligue já (71) 3285-1981
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