23 de julho de 2009

Motivação profissional X zumbis corporativos


O avanço na carreira, e até mesmo a oportunidade de alcançar determinados empregos ou cargos, podem estar ligados à motivação, ou mais diretamente aos efeitos dos diversos fatores que a compõem.

A “motivação” baseada apenas no contracheque leva ao risco da criação de zumbis corporativos

Vamos portanto dedicar alguns parágrafos a discorrer sobre as origens da motivação, a incapacidade das organizações de realmente motivar seus funcionários, e o que você pode fazer a respeito para motivar-se e dar um impulso à sua carreira.

Em busca da motivação
Um dos laboratórios mais férteis para o estudo da motivação profissional, na minha opinião, são as organizações ou iniciativas baseadas no trabalho de voluntários fixos - sem plano de carreira, geralmente sem compensação financeira, e unidos apenas por um interesse comum, é fácil perceber que alguns avançam cada vez mais na prestação do seu serviço, enquanto outros ficam estagnados e outros ainda tendem a durar pouco como integrantes ativos da organização - algo que você pode perceber facilmente nos clubes, associações, grupos de usuários e outras entidades similares a que é associado.
Deixando à parte (em um processo subjetivo, admito) as diferenças individuais (inclusive quanto à disponibilidade e aos fatores que levam cada um a participar da organização), percebe-se nessas condições um conjunto de comportamentos presentes nas pessoas que avançam na prestação do seu serviço, e que acredito poderem ser extrapolados para a situação profissional de muitos de nós - funcionários, gestores e até mesmo os que trabalham de forma independente.
Os 5 fatores essenciais da motivação
Os dois primeiros são pré-requisitos, na minha opinião, e precisam ser apresentados em conjunto: o interesse e a compreensão do seu papel. O interesse, tanto na atividade desempenhada quanto na missão da organização, nasce de muitas origens, indo muito além dos mais comuns, que são os de cunho técnico, e os relacionados à obtenção dos meios essenciais de sustento, segurança e aceitação social, que não são bons motivadores profissionais, mas apenas pré-requisitos básicos. Já a boa compreensão do papel depende do interesse do indivíduo e também da capacidade da organização comunicar adequadamente seu funcionamento ao público interno.
Somando interesse e compreensão, temos os elementos daquela velha (e piegas?) máxima da diferença da motivação entre dois pedreiros com a mesma habilidade, que faziam a mesma tarefa e ganhavam o mesmo por elas, mas tinham desempenho muito diferente: um deles via seu trabalho como empilhar tijolos unidos por cimento, e o outro descrevia sua atividade como construir paredes fortes para uma grande catedral.


A diferença que o profissionalismo faria…



Os próximos dois fatores são mais comportamentais, podem ser desenvolvidos por iniciativa própria com mais facilidade do que os 2 primeiros, e são diferenciais importantes entre os integrantes de qualquer equipe: o profissionalismo e a auto-renovação constante.
O profissionalismo aqui deve ser entendido em um sentido restrito, como o que aplicamos usualmente a artesãos ou trabalhadores manuais: é não aceitar soluções parciais, artifícios técnicos e gambiarras, recorrendo sempre ao procedimento correto e entregando um serviço completo, com qualidade e no prazo. Esta atitude, quando bem desenvolvida (e apoiada pela organização), é um fator motivador bastante positivo e conduz à inovação, pois ao rejeitar atalhos e atrasos tende a continuamente testar os limites dos processos e recursos disponíveis.
Já a auto-renovação constante é a atitude que permite ao profissional obter sempre novos estímulos a partir de sua atividade, aceitando desafios e provocando a transformação genuína a partir das pequenas coisas que estão ao seu alcance. Esta renovação pode ser buscada observando o que está sendo feito melhor na concorrência ou em áreas de conhecimento similares, atualizando-se profissionalmente, mantendo bons contatos, acompanhando publicações da sua área, e conduzindo suas próprias experiências controladas.


O quinto e último fator da lista é uma raridade que, quando genuína e associada aos fatores acima, é valorizada por todo colega, subordinado e chefe, e o retorno deles é um grande motivador. Trata-se da capacidade de assumir suas decisões. Quem gosta daquele colega que só assina um documento sob sua responsabilidade após conferir com todo mundo e levar mais alguém a compartilhar a decisão, para se precaver, “dividindo a culpa”? Quando você desenvolve a capacidade (genuína!) de assumir seus atos com responsabilidade (e não por impulso ou de forma impensada) e manter o que faz e diz, encarando o mundo de frente, terá muito mais chance de ser visto como um líder em decorrência da sua responsabilidade, e não do seu cargo.
Sintetizando: fatores e pré-requisitos da motivação.


Nesta visão, portanto, a motivação acaba decorrendo mais dos fatores pessoais que levam a pessoa a levar o trabalho a sério e desenvolver-se para estar à altura dele.
Como há 2 pré-requisitos (o interesse e a compreensão), minha conclusão natural é que em determinadas atividades é impossível que o profissional se motive, a não ser que a reinvente completamente, ou encontre nela algo novo que faça surgir os fatores iniciais. Quem trabalha “porque o papai mandou”, deixando de lado as suas próprias aptidões ou sem entender o que é produzido a partir do seu esforço, pode ter bem mais dificuldade em realmente se motivar.


Os fatores diferenciais (profissionalismo e auto-renovação) são encontrados, em menor ou maior grau, em todos nós - mas geralmente temos condições de investir esforço pessoal na sua ampliação. Quem consegue ampliá-los geralmente sai ganhando não apenas pelo lado da motivação, mas também na empregabilidade e no potencial de avanço na carreira. E as organizações que desenvolvem boas estratégias de estímulo a eles costumam colher bons frutos, enquanto as que os renegam acabam impondo um teto ao desenvolvimento de seus funcionários, que tendem a procurar alternativas de crescimento em outros lugares quando alcançam o limite.















Chega de desculpas!!!

E o fator complementar, que infelizmente é raro de encontrar em estado bruto na natureza, é um grande fazedor de líderes, e também um motivador por excelência: a capacidade de realmente assumir suas decisões. Desenvolvê-la pode ser custoso, e ter oportunidade para demonstrá-la pode exigir circunstâncias excepcionalmente felizes, mas ser levado a sério é um grande motivador, e um impulsionador de carreiras.

E o salário, benefícios, jornada, plano de carreira…?


Adiro às definições comuns e que costumam classificar estes itens como pré-requisitos e como fatores de desmotivação (na sua ausência), mas incapazes de realmente motivar.
Salários mais altos, benefícios melhores, ambiente agradável, boa localização, jornadas diferenciadas e adequadas à realidade dos profissionais, planos de carreira bem estruturados e outros objetos de desejo similares são ótimos fatores para atrair profissionais com o nível desejado; quando surgem como novidade, criam também uma onda positiva de boa-vontade e predisposição à motivação que dura algum tempo, mas não consegue se sustentar por si só.
Todos estes incentivos, quando oferecidos no nível adequado às funções desempenhadas, e ajustados de acordo com o desempenho do profissional ao longo da sua carreira, geralmente são apenas requisitos essenciais para que o comprometimento e a motivação profissional possam ocorrer - sua ausência ou insuficiência, entretanto, podem causar a desmotivação até mesmo pela via da redução do interesse, que é pré-requisito básico da motivação, e geralmente decresce quando o profissional tem razão para acreditar que poderia encontrar recompensa melhor pelo seu trabalho e conhecimento em outro lugar.


E é claro que estes não são os únicos meios de que a organização dispõe para desmotivar seus funcionários. Seja por suas limitações reais, seja pela incapacidade de reconhecer o funcionamento dos mecanismos da motivação humana, muitas empresas negam a seus funcionários as condições para desenvolver até mesmo os fatores motivacionais que estariam ao alcance deles individualmente, e algumas ainda pioram a situação ao tentar “substitui-los” por sistemas de incentivos associados a metas. Desafios são positivos, competitividade interna pode ter suas vantagens, mas são complementos à motivação, e não substitutos.


Motivação e avanço na carreira

Como em tantas outras questões da vida em sociedade, a ligação entre motivação e promoção ou avanço na carreira é mais profunda do que pode parecer em uma primeira análise.
É senso comum que um funcionário motivado tem mais chance de ser considerado para uma promoção, mas será que isso é uma decorrência apenas do efeito (a motivação em si, que nem sempre é visível) ou da soma dos fatores que levam à motivação?
Não acredito que as promoções devam refletir o esforço dos funcionários, mas sim o seu potencial de gerar maior valor na nova posição a que ele é alçado. Neste sentido, acredito que a soma dos efeitos visíveis de cada um dos 5 fatores da motivação mencionados acima (e em especial dos 3 últimos) é mais do que suficiente para diferenciar positivamente muitos profissionais, mesmo que a motivação em si (bem mais abstrata) não fique aparente para o observador casual, ou mesmo para um superior mais distante.


O efeito é similar ao que ocorre nas seleções de candidatos (involuntários, claro) às demissões em uma reestruturação empresarial: quem está melhor preparado para encontrar outra colocação no mercado acaba tendo menos chance de ser despedido - não necessariamente pelas mesmas qualidades que outros empregadores valorizariam, mas sim pelas causas delas.
O que, aliás, é uma razão a mais para buscar sempre alcançar e manter a excelência profissional, ainda mais nestes tempos bicudos, em que prever o dia de amanhã é impossível, e nos damos por felizes quando conseguimos ter razoável certeza do que vai acontecer daqui a duas horas…

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