13 de agosto de 2008




Sobra produção, falta transporte

O forte ritmo da economia nos últimos meses está provocando novos gargalos na logística de transporte brasileira. Com a demanda aquecida por causa do consumo interno e das exportações, as empresas já sentem dificuldade para escoar sua produção. Por falta de caminhões, as transportadoras estão tendo que recusar clientes e o preço do frete já subiu, em média, 12%. No setor portuário, o avanço da demanda mundial – puxada pela China – já gera uma limitação na oferta de navios e contêineres.
“O setor de transporte, principalmente nos últimos três meses, não está acompanhando a demanda das exportações. Hoje temos um volume de contêineres no mercado 30% inferior à necessidade”, diz o diretor geral da Frangos Canção, de Maringá, Rogério Gonçalves. Com 40% da produção destinada às exportações, a empresa teve um prejuízo de US$ 100 mil com uma encomenda para o Oriente Médio. A carga foi devolvida porque mercadoria chegou depois do prazo máximo previsto, de 90 dias. Mesmo com a contratação antecipada, muitas empresas não conseguem embarcar no prazo previsto porque os navios estão lotados. “Poderíamos exportar até 60% da produção se não fossem os gargalos de transporte, com a falta de contêineres e de mão-de-obra”, diz Gonçalves, que teve que aumentar em 15% dos gastos com armazenagem.

Para o pesquisador Maurício Lima, do Centro de Logística da Coppead, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as taxas de crescimento da economia brasileira acima de 4,5% nos últimos anos contribuíram para acentuar as fragilidades do setor de infra-estrutura. “Desde a década de 70, a economia brasileira não apresentava um crescimento tão vertiginoso. Se crescer mais do que 4% nos próximos anos, o país não vai dar conta dessa demanda.”

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), o setor madeireiro tem o equivalente a um mês de exportações – 120 mil metros cúbicos de compensados de pinus – parados nos portos do Sul do país à espera de navios. “Não é raro hoje o produto ter que esperar 30, 40 dias nos portos para entrar no navio. Isso gera custos e prejuízos para as exportações, com atrasos na entrega e perda de contratos”, afirma o presidente da entidade, Antonio Rubens Camilotti. Influenciado também pelo recorde das cotações do petróleo, o frete marítimo disparou e subiu 20% somente no último mês.

No mercado interno, a situação se repete: sobram encomendas e falta transporte rodoviário para atender ao avanço da produção. O presidente do Sindicato das Transportadoras de Cargas do Paraná (Setcepar), Fernando Klein Nunes, diz que o setor tem dificuldade em ampliar a frota porque as montadoras e as fabricantes de implementos não estão dando conta dos pedidos. A fila de espera para receber um caminhão pesado pode superar seis meses. Segundo ele, o cenário fez praticamente desaparecer do mercado os chamados contratos spot (para contratação imediata). “Quem precisa, não encontra.”

Fonte: Gazeta do Povo

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